sexta-feira, 5 de agosto de 2011

FLOR DO MAL


FLOR DO MAL


TÍTULO: FLOR DO MAL ENDEREÇO: Rua: Clarisse índio do Brasil, 32. CIDADE: Rio de janeiro. PERIODICIDADE: Não há como saber, pois só há um único exemplar no CEDAP que não possui data ou informação sobre a periodicidade. Nº DE PÁGINAS: 16. DATAS-LIMITES: 1971. EXEMPLARES: nº 4. REDAÇÃO/RESPONSÁVEL: Luis Carlos Maciel. ILUSTRAÇÃO: As ilustrações deste número são da autoria de Dicinho. COLABORADORES: Neste único exemplar os colaboradores foram: Jorge Mautner, Nando, Ivan Cardoso, Vera Duarte, ROGEL SAMUEL e E. Bono. CARACTERIZAÇÃO: O Jornal possui em sua capa uma caricatura. Há artigos em forma de poemas relacionados aos exagerados consumos industriais, críticas a escritores e compositores que escrevem em linguagens complicadas, entre outros. Há também artigos que criticam o PT e o cristianismo, além de uma entrevista com um monge japonês que peregrinou pelo mundo. DESCRIÇÃO: O jornal começou a circular em 04 de novembro de 1971.Foi um jornal destinado ao público jovem com um contexto “hippie”, no qual fala de música pop e literatura, esoterismo, ecologia, pé na estrada e cultura orienta.Seu título faz referência à obra de Baudelaire “Les Fleurs du Mal”. O periódico possui tendências de esquerda e também preza a liberdade cultural, política, sexual e religiosa. FONTE: além da análise do periódico, alguma informações foram retiradas do site: www.grafolalia.blogger.com.br

DALMA NASCIMENTO SOBRE "O AMANTE DAS AMAZONAS"


DALMA NASCIMENTO SOBRE "O AMANTE DAS AMAZONAS"


Impacto diante de sua narrativa semelhante à do narrador da oralidade, e cinematográfica mesmo, no dizer da Eliana. Visualizam-se, de fato, todas as cenas iniciais, montadas com metáforas poéticas, sem maiores pretensões. Escreveu o quadro de uma época( 1897) com muito vigor e beleza. significativamente com densas impressões.

Nota-se, desde aí, a intensa pesquisa em todos os níveis: detalhes topográficos, sociais, culturais, além de fortes traços dolorosamente psicológicos. E tudo isso, embolado/embalado criativamente ,emergindo , sintético, no palco mental do narrador memorialista.Tocantes os flashes da situação e do ambiente. Pincelou a utopia do Eldorado, o dado "lendário, mítico'" do seringal, atraindo e destruindo "gentes".. Excelente a descrição (p.13 ) do narrador, lembrando-se e vendo-se menino diante do possível olhar dos irmãos:" Eu magro, olhar esmagado sob uns cachos de cabelos castanhso que tinha, abandonado, surgido como aparição...." e a sua solidão existencial com Genaro e Antônio, ambos bichificados, modificados naquela odisseia perambulante do viver na selva. Todos expropriados.pelo poder tirãnico do capital.

Com diferente dicção, é certo, já que a especificidade de seu discurso é bem outra, recorda, em parte, a escrita de Graciliano e também de Guimarães Rosa. Você traduziu, naquela atmosfera, desconhecida, sagrada com "densa leveza" a dureza do seringal. Creio ser este o qualificativo mais apropriado para falar do "clima' da sua construção meio mágica, meio real, histórica, ao mesmo tempo, culta e popular: " Densa Leveza". . Ainda não sei bem definir seu livro. Porém, no calor das coisas, bem iniciais, quero dizer que estou gostando. Isso já basta, não? Respondo-lhe, assim, a sua mensagem abaixo: " Espero que goste".

Eis então as impressões iniciais nestas frases meio soltas. Não estou fazendo análise, mas relatando o que as primeiríssimas páginas me suscitaram diante da singeleza sofisticada do texto ( já bem o disse Eliana). Gostei também de sua linguagem coloquial com aqueles " quês", que sintaticamente são "porques" ( conjunção causal ) que a toda hora você, corretamente, usa. E os ganchos da oralidade do narrador " inculto'., para engatar a história são também muito adequados.

ELIANA BUENO-RIBEIRO SOBRE "O AMANTE DAS AMAZONAS"

ELIANA BUENO-RIBEIRO SOBRE "O AMANTE DAS AMAZONAS"

"Veja bem, nao digo, modestamente, que acho magnifico: afirmo que é magnifico, afirmo o que me parece uma evidência. Trata-se de uma obra-prima!" (ELIANA BUENO-RIBEIRO, de Paris)


Eliana Bueno-Ribeiro
Université Lumière Lyon, França -
Graduação em Letras Portugues Literaturas de Lingua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense (1970), mestrado em Letras (Ciência da Literatura) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1979) , doutorado em Letras (Ciência da Literatura) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1989) et pos-doutorado em Literatura Comparada na Université de Paris III - La Sorbonne Nouvelle, em 1991 e 1992. Atualmente é pesquisador associado na Universite de Rennes II. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura e Historia, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura brasileira contemporânea, anos 30, memoria e formaçoes identitarias, teatro brasileiro do século XX.

Queria te dar algumas impressoes primeiras, de primeira leitura, sobre seu romance que como lhe disse é magnifico.

Veja bem, nao digo, modestamente, que acho magnifico: afirmo que é magnifico, afirmo o que me parece uma evidência.

Vou listar livremente alguns dos elementos que chamaram minha atençao.

1-Em primeiro lugar, a estrutura: casos. A Amazônia que nao tem ordem, nao pode ser ordenada, lida, explicada, so tem veredas, furos. Uma historia através de historias, como diz Rosa em Tutaméia. A presença de Rosa é percebida no bom sentido. Você é um herdeiro mas um herdeiro traidor. Rosa é ascendente, você descendente, ele seria digamos "positivo", solar, você "negativo", crepuscular. Sua Amazonia é também um mundo mas um mundo que se nega ao homem. Ao menos ao homem tal como o conhecemos, com o qual nos identificamos. Os Numas serao homens como nos?

A noçao de" fechamento", nao acho a palavra técnica, é obsedante. A Amazônia aparece maravilhosa no sentido de atraente e apavorante. O principio do mundo, disse você em algum momento. O principio de tudo.

2- O assunto: a Amazonia tratada como nunca li. Campo de luta. Natureza e Cultura mas também brancos e indios, ricos e pobres. Você escapa do chavao de opor homens e mulheres, homens e prostitutas. Nada do folclorico de Cruls, nada do todo branco de Hatoum. Nao é também a visao amorosa e compreensiva mas "de fora" de Darcy Ribeiro. Seu narrador fala ao mesmo tempo de fora e de dengtro. E Ribamar mas é também Benito Botelho, bebe até morrer no Bacurau e lê grego e latim ( perdoe-me a ignorância, de quem sao os versos que ele declama, que nao identifiquei?).

3- Os personagens: o intelectual, o politico, o negociante falido, as mulheres todas diferentes, o travesti mulher ( incrivel), o herdeiro. Sobra - sobra- finalmente o filho bastardo, desamparado, sobrante depois que tudo acabou que todo o romanesco desapareceu: o filho da puta.

4- A linguagem: meu amigo, a linguagem parece copiar a natureza que inspira o relato: esplêndida. A riqueza vocabular envolve , seduz o leitor, enlaça-o . Que frases! O primeiro paragrafo agarra o leitor e nao o deixa mais escapar. Li o livro em três dias porque tenho a rotina doméstica que nao pode ser rompida se nao o dia da familia nao anda. Se nao, teria lido em um so dia, de uma tacada so. Deixei o livro a cada vez com pena, contando o tempo para me reencontrar com a historia. O ritmo é ao mesmo tempo lento e impetuoso, impelindo a leitura, como parece ser o ritmo dos furos que o narrador descreve. Você tem frases, periodos, de cortar o fôlego ( nao vou parar para copia-los agora, farei isso depois). Nao é necessario que você diga que levou 10 anos escrevendo: é claro que um livro como esse nao se fez num dia. O trabalho sobre a linguagem é grande e tao grande que alcança a simplicidade enganosa.

5- As referências: vejo o especialista de Rosa. Mas como disse, o filho perverso. Vi também Conrad. A apariçao do Palacio através da mulher vestida de verde é impactante. E vi cinema. E um livro que parece inspirado pelo cinema e pronto para ser filmado. Imagistico.